terça-feira, 27 de setembro de 2016

SPOTS TO GO #1

Ceviches, Tacos & Tears

Chegou ao El Clandestino, na R. da Rosa, vinda do Cais do Sodré a pé onde tinha estacionado. Agora era sempre a subir até chegar ao restaurante. Sabia que era impossível  estacionar no Príncipe Real pela hora do jantar, ainda para mais numa quinta-feira. E, para variar, estava atrasada. Já lá deviam estar todas.

A cabeça a mil. As ideias bailavam entre o relatório de entrega de fecho que não tinha conseguido acabar, reuniões infindáveis o dia todo, o seguro do carro, devolver chamadas, tudo a correr, como sempre. E depois... Depois, a meio da tarde... a bomba.

Quando chegou parou um minuto à entrada impressionada com o painel de madeira gigante com casas coloridas amontoadas e iluminadas, à esquerda de quem entra. “Favela Vidigal”, feito à medida para o espaço, soube mais tarde. O restaurante parecia ser também uma galeria de arte e estava cheio! Nas mesas, umas altas com bancos, as pessoas conviviam animadamente, num ambiente descontraído. Os empregados passavam atarefados com pedidos e pratos coloridos com ceviches, tacos e muitos shots e margaritas. Parecia que dançavam ao som da musica, alta, a condizer com o espírito. Da entrada dá para espreitar a azáfama da cozinha, aberta ao público. Era daí que saiam as iguarias, numa mistura de opções mexicanas e peruanas, a nova tendência que parece que veio para ficar. Pelo menos ela achava que sim. No andar de cima, uma mezzanine também com mesas e ao fundo um pequeno pátio decorado com objectos de cores garridas fazendo alusão a um cemitério mexicano.

- Mariana! Estamos aqui. Que fazes aí parada?
- Desculpem o atraso! Estava difícil.

As conversas começavam a atropelar-se. Era sempre assim. Os temas variavam entre família, as novas conquistas dos filhos, fotos das últimas viagens feitas a dois, algumas novidades e muitos desabafos de chefias e colegas. Estes jantares, onde o tempo voava, apesar de não se realizarem com a frequência desejada, eram como que sagrados. Partilhavam-se desabafos, dúvidas, dilemas, experiências e boas energias! Sempre com grande dose de franqueza que a intimidade entre todas assim o permitia. 

A empregada, diligente, com um sorriso pronto, queria tirar os pedidos, mas percebeu que tinha de regressar mais tarde. Com tanta conversa ninguém viu os menus. O couvert já tinha sido devorado. Totopos (nachos fritos caseiros) com 3 molhos (4,50€). A guacamole estava ótima, fresca e com muito boa consistência.

Finalmente pediram. Tacos e ceviches para partilhar. O taco de leitão cozinhado a baixa temperatura (8.30€) foi o favorito. Todos muito bem recheados, alguns com opções picantes. Nos ceviches o Clandestino levou nota mais alta (9€). A empregada teve sempre o cuidado de dar explicação dos pratos, confecção e ingredientes à medida que surgiam as perguntas.

Acompanharam com margaritas. Foi difícil escolher entre 12 opções. A Triple Citrus (6€) com sabor a citrinos foi a mais votada. 

Os grupos de amigos, casais e alguns grupos estrangeiros continuavam a a encher a casa.

De repente, Mariana explodiu:

- O Tiago vai-se casar.
- Mas já? A sério? Ohhh Mariana...
- Nem sei que te dizer.... Como é que soubeste?
- Pelo Facebook. Há alguma coisa que não se saiba primeiro pelo Facebook hoje em dia?

Era verdade. Nenhuma soube com que argumentos contestar esta frase. 

- Como estás?

A velha pergunta de sempre. A velha resposta de sempre. Não sabia.
O silencio impôs-se na mesa. Todas sentiam que lhe custava ainda (e muito) falar sobre isso.
A Marta quebrou o silêncio. 

- Olhem a sobremesa.... Vamos escolher?!

Era melhor mudar de assunto, pelo menos para já.

La bomba de chocolate (chocolate em duas texturas com espuma de pimenta e malagueta e amendoim caramelizado) foi o favorito (5€). O Jardim de churros com doce de leite nada enjoativo e espuma de lima (5,50€) também não desiludiu e ficaram a saber que era o favorito dos clientes.

Mariana não dividiu sobremesa. Se havia motivo forte para furar quaisquer dietas era aquele.

Ficou a promessa de voltarem. E da próxima vez começariam com um shot, de entre 15 à escolha.


Mariana Reis

El Clandestino
Mexicano/Peruano
Rua da Rosa, 321 (Príncipe Real) Lisboa | 915 035 553
20€/pax. aproximadamente
Descanso semanal: Não tem
Das 18h30 às 02:00
Reserva recomendada
Aceita cartões



"O amor é tão importante como a comida. Mas não alimenta."
Gabriel García Márquez





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